terça-feira, outubro 07, 2008

Evolução lin-guís-ti-ca

Parece uma boa ideia aproximar nações separadas, contribuir para o espírito de unificação e realizar algo significativo para a prosperidade de uma comunidade linguística. Como amante das palavras e da língua portuguesa, gostaria de começar minhas postagens aqui falando disso: dessa entidade crucial da existência, nem apenas ferramenta, nem meio somente, mas de fato fundamento necessário de tudo que somos e fazemos (pelo menos até que consigam me mostrar alguém completamente desprovido de linguagem). 
Nossa língua foi recentemente reformada, depois que o presidente assinou o acordo. Ao que parece, nossas queridas onças amarelas agora contêm todas um erro de acentuação e ninguém mais pode fazer churrascos tradicionais, por falta de trema. O que eu achei inicialmente ser uma violência contra todos os meus esforços em aprender um português correto, revelou-se aparentemente uma pequena correção de alguns detalhes estéticos. 
Tentando ver alguma razão para pessoas de bem fazerem tanta questão de uma reforma, descobri que o primeiro projeto largamente discutido neste país foi a proposta da Academia Brasileira de Letras, em 1907, amplamente debatida e rebatida por ilustres figuras de nossa literarura. Desde então, foram muitas — me surpreendi com o número — reformas, contra-reformas, recauchutagens e querelas passadas e correntes acerca do bom e velho português.
Preciso concluir que, ao contrário de ser uma só entidade morta e embalsamada, nossa língua é um conjunto populoso de entidades mais ou menos hostis e permanentemente em guerra. Sou partidário de manter as diferenças e aprender a lidar com elas, ao invés de as aniquilar. Minha opinião diz que diferenças enriquecem a cultura, que nada contribui mais para aproximar várias nações do que o mútuo respeito (que não depende das diferenças de fala e escrita, mas de compreensão e vontade, sempre acessíveis a todos) e que a prosperidade de qualquer comunidade linguística acontece quando seus falantes se aperfeiçoam e tornam-se capazes de fazer com que a sua fala, independentemente dos desacertos, ecoe através do tempo. 
Sou favorável a mudanças, mas apenas à mesma espécie de mudanças que acontece com uma semente que germina e com uma árvore que cresce. Apesar de ter móveis de madeira e de falar um português reformado, não gosto muito da ideia de cortar as árvores, principalmente se for por motivos ruins ou fracos como cortar todos os galhos e reduzir todos os tamanhos para que todas sejam iguais. Prefiro falar na linguagem por demais brasileira do João, que permite certos desacompassamentos bem medidos, do que compactuar com reformas que deixam nossas onças destelhadas, nossas cabeças vazias e nossos churrascos sem combustível. 
Estejam à vontade para dizer se e onde eu agredi o bom e velho português, tanto aqui, quanto em todas as minhas futuras postagens, porque considero uma covardia golpear velhinhos indefesos. 
P. S.: Em nome do Alexander, do Lannart e da minha querida Opinião (que estará sempre presente em minhas postagens), gostaria de desejar boas vindas a mim mesmo.


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