quarta-feira, janeiro 27, 2010

Nada de novo de novo


Em minhas garimpagens pela net, vou esbarrando com um monte de coisas legais, engraçadas, geniais, inteligentes, tudo isso junto ou apenas coisas completamente inúteis. Tenho orgulho de dizer que sou um bom garimpeiro. Navego em sites e blogs de diversas línguas, que, a exceção do inglês, não entendo picas. Mas como a internet (e tudo nesse mundo moderno) tem se tornado cada vez mais visual e menos textual, não faz muita diferença. Qualquer coisa, a ferramenta de idiomas do Google taí pra ajudar!

Enfim, nessas andanças virtuais, costumo ver coisas muito legais em blogs russos. Cerca de uma semana depois ou pouco menos que isso, me deparo com as mesmas coisas postadas traduzidas nos blogs brasileiros. Com algumas raras exceções, tudo que rola nos blogs brasileiros e chupinhado dos blogs russos. Nada se cria, tudo se copia. Tudo bem em linkar um post. Já copiar é ridículo. E não citam nem o autor e/ou fonte, pra piorar.


Guerra dos clones!

Até aí, tá quase tudo bem. O problema é quando os blogs brazucas começam a copiar uns aos outros. Caramba! Ultimamente não têm se esperado nem ao menos uma semana! Postam a mesma coisa quase que massivamente e ao mesmo tempo. Vamos ao exemplo que motivou esse post:


Só pra constar. Isso é véio pra caramba! Nem me lembro quando foi que me deparei com isso na internet, mas sei que tem muito tempo. É bem legal e tal. Mas tudo que é demais cansa.

Sei que não é possível acompanhar todos os blogs para poder saber se esse ou aquele já postaram algo que você encontrou. Mas do jeito que as coisas estão, não tem nem desculpa. É muito post igual! Saca só:

Aqui, aqui, aqui (Esse aqui até que foi ano passado... óia só), aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

E alguns estrangeiros...

Here, here, here, here too and here.


UFA! E isso porque eu desisti de googlar!

Outro que já deu o que tinha que dar é esse daqui, o gato ator de sobrancelhas expressivas!

Apesar de usar o Sedentário como exemplo, ressalto que é um dos poucos blogs que visito que sempre posta coisas inéditas.

Nem sei em quantos blogs eu já me deparei com esse gato na última semana.

E os exemplos são muitos. Aposto que cada um aqui pode citar pelo menos umas quatro coisas que já encheram o saco.

Pra não dizerem que fiquei só na crítica e na reclamação, cito com honras um blog excelente:

O Blogpaedia, que sempre traz textos interessantes, inteligentes e criativos. Vale a pena a visita.


A Síndrome Da Culpa No Outro


Uma coisa me intriga há um bom tempo. É sobre sexo, lógico. Que outro assunto melhor? É de fato uma coisa deveras intrigante pois, pode-se ir expandindo a discussão para muitos outros campos. Aplica-se também em ambos os gêneros, já adianto.

Situação: Um casal, transando. Depois de terminarem, alguém não está satisfeito e acusa o parceiro de ser ineficiente. Que talvez tenha se preocupado pouco com a satisfação do outro. Nada muito dramático. Não ainda. Se isso continuar a se repetir, a coisa pode ficar feia.

Não que essas acusações não possam ser verdadeiras, elas podem. Mas no nosso caso aqui, não são. O parceiro realmente se preocupa com a satisfação do outro. O problema é que alguém, ou ambos, estão esquecendo que a responsabilidade pela satisfação, pelo prazer, pelo orgasmo, pertence em igualdade aos dois.

Aqui entra também aquele lance da interatividade. Os dois precisam mostrar disposição e iniciativa. Sexo é uma coisa que quando é feita apenas por uma pessoa leva o nome de masturbação. E pra isso não precisa de companhia. Não adianta um ficar esperando pelo outro ditar os rumos e ritmos do sexo. A coisa toda precisa ir acontecendo naturalmente. Tem coisa mais chata para um homem, penso que mais ainda para a mulher, do que ter que ficar ditando as posições na hora da trepada? "Fica assim". "Vira de lado". "Sobe mais um pouco". "Vem por cima".

Que é isso? Tão colocando um quadro na parede? Sinceramente... Se uma dessas frases não vier acompanhada de uma safadeza bem suja, não terá a menor graça.

Aqui vou me lançar num terreno perigoso. Agora é a parte onde eu me arrisco a ser taxado de machista ou até de preconceituoso.

Esse comportamento é muito mais comum nas mulheres. Que homem nunca "pegou" uma mulher e descobriu que ela era, na verdade, uma boneca inflável? Estamos numa época de liberdade sexual e feminina. Será que frigidez é mesmo algum tipo de doença ou apenas um comportamento recalcado, conservador e puritano? Ou tudo junto!?

Vou mais além! Vou citar o tipo que, para mim, é o mais comum entre as mulheres. É aquele tipo que tem na cabeça que, transar com um homem, é um ato de caridade que elas, mulheres, estão fazendo aos pobres coitados fissurados por sexo que são o bicho homem macho. Com esse pensamento em mente, o comportamento passa a ser o de exigir e impôr que a obrigação de satisfazê-la depende única e exclusivamente do homem. "Ele precisa ser capaz disso! É o mínimo que ele pode fazer!"

Não é uma generalização. Vou apenas citar uma frase de uma amiga que me chocou para ilustrar esse pensamento. No momento, o namorado reclamava de pagar uma ou outra coisa pra ela, não vem ao caso o que era. Quando ele saiu para ir ao banheiro, ela vira e diz: "Ele tem mais é que pagar mesmo. Eu abro as pernas pra ele de graça!" Não. Ela não é puta. Ao menos até onde eu sei.

Outro fato, pois já foi estudado, ao menos empiricamente, é que as feias precisam se esforçar muito mais para agradar aos homens na hora do sexo. As bonitas não precisam se preocupar, pois têm os homens aos seus pés, na hora que quiserem.

Mas aqui eu tento recuperar meus pontos com a mulherada! Pode-se facilmente inverter toda essa lógica aí colocando o homem no lugar da mulher. Acontece a mesma coisa, só que com menor frequência. Os homens são mais descarados e tem pouco amor próprio.

A situação mais comum envolvendo um homem é a que discutimos num post do blog das Velhas Quase Virgens. Para não repetir e encurtar a história, um homem age com essa arrogância, que é mais característica nas mulheres em relação ao sexo, para se defender ou para tentar levantar o próprio moral. Eu diria que somos mais egóistas que arrogantes nessas situações. Aquela clássica brochada ou a precocidade do gozo tem que ser culpa de outra pessoa! "Com certeza foi aquela bruxa que me enfeitiçou! Macumba! É ela que não fode direito!"

Como eu disse antes, a idéia central dessa discussão pode ser ampliada para tantas outras situações do dia a dia (Dia a dia tem hífen? Hífen ainda tem acento?). Nós, humanos, temos essa mania besta de sempre querer tentar achar um culpado antes de encontrar uma solução. Para qualquer problema. Em qualquer situação dessa vida. O problema sempre vai estar no outro. Discutir, jamais! Culpa neles!

O que precisamos de verdade é de muito sexo! Muita liberdade pra fazer e falar de sexo! Vamos enaltecer a revolução feminista! Vamos enterrar o conservadorismo e vaporizar o machismo! Vamos nos libertar de nossos medos e da nossa vergonha! Vamos dividir as culpas, eliminá-las e procurar soluções para os problemas. Porém, nada de libertinagem, mas sim muita responsabilidade. E conhecimento, que só entra na cabeça das pessoas quando levamos a discussão sobre o assunto até elas. Sexo consciente é saúde.


E agora... CHUTANDO A CANELA! =D



"Felizes são os desinibidos, desavergonhados e despudorados que topam uma suruba!" (£annart)

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Quando o cupido mira em um LOSER

Faz já algum tempo desde que meus amigos, cientes de todas as minhas desventuras amorosas e de seus detalhes sórdidos, proibiram-me terminantemente de enviar cartas.
Eles obviamente sabiam que seria como proibir o crime. O crime é sempre proibido. O crime é sempre cometido infinitas vezes mais. Paguei muito caro por meu crime de enviar cartas. Em todas as vezes, meus amigos nunca precisaram mover sequer um dedo para me punir, ou dizer o quanto o crime não compensa. Sou um eterno ladrão nesse sentido. As autoridades da sensatez jamais conseguirão conviver comigo.
Sabemos todos que o problema nunca foi escrever cartas, nem qualquer outro detalhe isolado dentro de meus desajustes emocionais. Sou um especialista em atirar-me de cabeça em piscinas vazias, mas pelo menos reconheço que não sei amar e ainda tenho muito que aprender nesse — e em muitos outros — sentidos. Até então, descobri muitas maneiras erradas de fazer as coisas. Absolutamente nenhuma certa, em absolutamente nenhum detalhe — além de minha boa vontade, de minha dedicação, e, claro, de minhas cartas. Uma descoberta muito valiosa, porque agora sei muito bem uma porção imensa de coisas que eu não devo fazer. Acredito que minhas experiências passadas devem servir para enriquecer — e não para entulhar e impedir — as futuras, de modo que continuarei a escrever cartas, para todo mundo — o que eventualmente irá incluir uma mulher pela qual me interessar no futuro, apesar disso ter passado a figurar como atividade criminosa.
Sei que estou destinado a morrer por meus crimes, mas ainda posso inspirar gerações futuras a viver por coisas sem nenhum valor e a morrer por coisas sem nenhum sentido, como o amor.
Nos momentos em que estive na prisão — de querer escrever cartas, mas sentir a promessa aos amigos como uma obrigação que eu não poderia negar —, comecei por várias vezes alguns versos que permaneceram incompletos, não-remetidos e que, de acordo com eles mesmos, não serão enviados, pelo menos enquanto eu viver. Os espaços entre eles contam como uma forma de pontuação prolongada, porque cada parte começou em tempos diferentes. Recentemente, reli os pedaços e o conjunto deles pareceu combinar um pouco, de modo que achei interessante colocá-los adiante.



Talvez eu nunca possa entregar-lhe esta carta, minha amada.
Para mim, o amor que sinto agora parece mais intenso que tudo que já senti.
É mais forte que qualquer amor do passado
e destinado a durar a eternidade em meu peito



Nunca poderei entregar-lhe esta carta, minha amada.
O que mais desejo é fitar seus olhos enquanto nos entregamos um ao outro,
mas seu nome é um segredo guardado em meu peito
e sua vida, um acontecimento sempre distante.

Gostaria de estar em sua proximidade
e perder-me todo dia na fragrância de seus cabelos
e encontrar-me toda noite no calor de seu leito
e acordar ao seu lado a cada manhã

A perfeição de meu tempo escapa-me por entre os dedos...
enquanto os dias repetem minha falta, meu desassossego.
Nenhum sinal de seu sentir jamais recebo
através da distância infinita que nos separa.
Portanto, nunca poderei entregar-lhe esta carta.



Talvez eu tenha nascido para amar sem esperar recompensas.
Ser um devoto sem divindades, perambulando sobre abismos.
Talvez eu tenha nascido para aprender o que é solidão.
Vagar com rumo certo, sem ter rumo nenhum.
Meu caminho é o limite entre as tensões inconciliáveis
de saber exatamente o que quero e ter certeza de que não terei.

Seus olhos fitam com desejo apenas os olhos de minha imaginação.
Um olhar que jamais existirá em lugar algum,
porque eu nunca lhe entregarei esta carta.



Algumas de minhas criações às vezes envergonham-me, mas tenho aprendido a ter vergonha apenas do que é vergonhoso. Poucas coisas são realmente vergonhosas, se feitas com propriedade, por necessidade e com decisão. Ainda assim, costumo relutar em publicar quaisquer versos, mesmo para um público bastante seleto, como o daqui. Considero que, num balanço geral, estou muito bem. Para começar, por estar me sentindo bem. Acho que só por isso mesmo, porque eu ia fazer uma escala comparativa, mas acabo de descobrir que, para mim, os outros não servem nem pra isso. O que importa são vocês e eu. Que os outros se entendam entre eles, na sua distância.
Tive problemas com o título até encontrar a imagem, e acho que consegui concluir como em geral a aura dos "losers" afeta aqueles que se embrenham nela, mesmo as entidades oníricas, como o cupido. Vou continuar esforçando-me para fazer as coisas darem certo. Vou continuar mantendo-os atualizados de todos os meus desastres.

terça-feira, janeiro 19, 2010

NOSCE TE IPSUM


Há alguns dias, respondi a umas postagens do blog do Greyiscown (esse aqui) que propunham que nós visitantes indicássemos três das melhores entidades (heróis, vilões, livros, filmes...) de acordo com nossa opinião. Eram onze categorias. Um pouco cansativo, mas bem interessante: lembrar de pelo menos trinta e três de suas melhores vivências. Isso me fez recordar de duas coisas. Primeiro, de um filme (High Fidelity, de 2000, traduzido sob o título de Alta fidelidade) onde o protagonista conversa conosco expondo as cinco experiências mais intensas em cada tema que ele julgava relevante no momento. O filme resultou para mim em uma viagem por minhas próprias recordações. Finalmente, lá pelas tantas, no meio das respostas que dava às postagens do Greyiscown, recordei-me de uma coisa comum ao que me aconteceu tanto ao assistir High Fidelity, quanto ao ir respondendo às categorias indicadas no blog. Trata-se da ação proposta pela frase misteriosa — afinal, falar qualquer coisa, como "vá comprar pão", em latim, acaba soando como um encantamento de magias ocultas — que dá título a estas palavras: conhecer-se a si mesmo.
Quando vejo à minha frente um grande número de melhores acontecimentos — e acredito que algo semelhante poderia vir dos piores — de minha vida, enumerados por mim mesmo e a respeito dos quais nem pensava em muito tempo, acabo espantando-me com um surto de novidades que descubro ao olhar para o lugar em que menos esperamos encontrar novidades: o passado. Há quem diga que só precisamos do tempo presente para nos autocompreendermos. E também há quem diga que esse negócio de "conhecer-se" não dá nenhum futuro. Prefiro considerar meu tempo como um todo, sem desprezar nenhuma de suas partes. Planejar o resgate de boas coisas velhas no futuro, tirar novidades do passado, viver mais uma vez um mesmo presente que valha a pena...
Isso me fez ver o quanto ainda negligencio um tanto importante de componentes fundamentais de minha vida, e o bom tanto de estrada que ainda falta percorrer para me encontrar. Não lembro agora qual poeta, nem as palavras exatas, mas ele dizia que encontrar-se é perder-se. E que perder-se é encontrar-se. E que então vale mais procurar-se, porque se você acha que se encontrou, então está perdido... e se você está perdido, precisa se encontrar.
Minha vida é uma sucessão infinita de aventuras e desastres. Eu ando, sem qualquer habilidade, na tênue corda bamba chamada "por-um-triz". Sempre acho que me falta sensatez, que as coisas podem ser diferentes, que eu poderia ter agido melhor, que o próximo ano pode ser mais organizado, e assim por diante. Todas as coisas que conquistei fazem parte de mim, mas a soma delas não me equivale, o valor delas, qualquer que seja, pode mudar, cair por terra... pois elas não dependem só de mim, estão fora da parte de mim em que posso me permitir a ilusão de controle. Sou controlado por mim mesmo, mas eu mesmo sou uma força que desconheço — ou que, na melhor das hipóteses, conheço apenas parcialmente.
Aos meus dezessete anos, eu nunca beberia cachaça, nunca encheria a cara de cerveja, jamais fumaria absolutamente nada, sempre amaria profundamente todas as mulheres que beijasse, faria a autoanálise de minhas ações em todas as noites, antes de dormir, e me tornaria um escritor. Nos dez anos que se seguiram, apenas algumas decisões permaneceram. Perdi boa parte de minha maturidade (eu era mais velho quando mais novo), ganhei cicatrizes — e parafusos de metal no osso, apesar de ter perdido uns parafusos da cabeça —, vivi um bocado de coisas que não pretendo repetir e outras que quero sempre fazer denovo, lamentei por um bisavô e por um grande amigo em potencial, e realizei a primeira autêntica 'road trip' entre amigos.
Continuo completamente perdido, mas, como dizia o poeta, o importante é procurar-se.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Veredas

Tudo começou num dia útil, talvez uma quinta, em que eu dormia enquanto o mundo trabalhava. Estava sonhando numa boa quando, derrepente, o sonho recebe aquelas estranhas interferências que um celular causa na tela de um monitor antigo. Era um telefonema da Gôrda, que fica bem feliz em me despertar — e me faz ficar mais feliz em ser acordado. Ela convidava-me para uma viagem de fim de ano, da melhor maneira de fazer viagens surgirem: sem planos determinados, sem métodos pré-estabelecidos, ou qualquer garantia... apenas uma grande vontade de viajar, que logo compartilhei e amplifiquei de minha maneira lenta e constante.
Os acontecimentos do percurso estão narrados muito bem por ela em seu blog, do qual gosto muito: http://velhasquasevirgens.blogspot.com/2010/01/o-conto-do-condado.html
Minha versão dos acontecimentos vai demorar um pouco para sair, porque eu sou lento. A viagem, porém, me fez concluir sentimentos, pensamentos e teorias que eu ruminava há varios meses — alguns com mais de um ano. Antes deles, apenas gostaria de aproveitar esta linha para expressar mais uma vez minha gratidão infinita pela existência da Gôrda. Como não sei bem quem é o responsável pela existência das pessoas, penso ser válido agradecer à própria existente: obrigado, Gôrda!
Nosso grupo de estrada teve muitas conversas que começaram assim que a "road trip" teve início; depois, elas estenderam-se aos amigos que nos receberam, e finalmente continuaram mais uma vez durante todo o percurso da volta. Saída e chegada foram apenas pontos secundários para mim. O que aconteceu entre esses pontos, o percurso de nossos caminhos, o fazer-se de uma parte memorável de nossas vidas... isso é o que tem para mim a primeira importância.
Das várias rotas possíveis, tanto na ida quanto na volta, escolhemos aquela única possível, que é a que devemos percorrer. Bem estranho isso. Num momento, parecemos escolher por nós mesmos, por nossa livre expontânea vontade, para em seguida percebermos que não poderia ser de outro modo, que aquele caminho, com seus desvios e acontecimentos, era nosso único caminho possível, nossa necessidade. É difícil medir o quanto podemos escolher um caminho e o quanto nosso caminho já nos escolheu antes. Tomo emprestadas palavras que tornaram-se minhas, dizendo que a liberdade é o estreito de um caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Da mesma fonte (Grande sertão — veredas, do Guimarães Rosa) tomo emprestadas adiante mais algumas das palavras que tornaram-se minhas, para tentar dizer um pouco daquilo que sempre repito novamente, sem sucesso em expressar-me com a devida clareza.
Viver é muito perigoso. Um olhar inadequado, uma palavra mal colocada, cinco minutos de atraso, detalhes menores até, podem desviar e arruinar uma vida inteira, duas vidas inteiras, quem sabe quantas vidas mais? Se eu tivesse deixado de falar o que precisava, se eu tivesse dito mais do que deveria, se eu tivesse ficado em casa... quantas vidas eu afetaria e com que direito? Há quem diga que andar de moto é perigoso, ou que sofrer um acidente é perigoso, mas essas pessoas não costumam atentar para o perigo de um olhar, de uma desconfiança, de um prejuízo que fazemos de alguém em função de mágoas passadas, ou de preconceitos herdados que relutamos em admitir. Esses erros todos e esses riscos todos eu vejo antes em mim. Eles me assustam mais do que a maior parte das coisas que deveriam me assustar de fato, se eu fosse mais sensato.
Passei longos anos tentando domar o medo de falar com os outros, expressar-me, dizer o que penso. Palavras tortas e ouvidos tortos distorcem tudo que quiserem. Domar o medo de ser, ao mesmo tempo, lento e desesperado, calmo e furioso, perdoador e rancoroso. Não tenho a conta de quantas oportunidades me passaram diante dos olhos enquanto tentei domar meu medo, mas tenho que acreditar que elas não eram minhas, se eu não estava pronto para elas. Houve um tempo em que eu sabia o que era estar pronto... e estar pronto era aquilo que eu nunca estava. A vida chega sempre de surpresa e é preciso coragem pra decidir o que fazer com ela. Nenhuma decisão parece fácil, se bem medida: dizemos um sim e negamos todo resto, nas decisões pesadas — aquelas depois das quais não há retorno. Ou bem dizemos um não, para esperar um inesperado melhor, mais merecedor de nosso cuidado, de um "sim".
Acabo de descobrir que passarei meses incontáveis tentando desvendar minhas próprias conclusões, que tudo que parecia estar claro depois das muitas conversas é só um começo de muitas coisas difíceis, das quais nem comecei a tratar aqui. Gostaria de saber me expressar melhor, mas isso, por hora, é o melhor que posso fazer.

Caixa de Pandora



Pandora Box by Arthur Rackham

Porquê temos esse desejo incontrolável de olhar para trás? Será que isso surge apenas quando nos damos conta do quanto envelhecemos?

De uma coisa eu tenho certeza: isso é muito piegas e escrever sobre isso é tanto quanto, ou mais. E não é a vida deveras piegas? Desafio a qualquer um a pensar...

Duvido que não exista algo em sua vida que você, talvez, não compartilhe com as pessoas por ter certeza de que soa como "brega", "retrogado", "conservador", "machista/feminista" ou seja lá o que for. Cada um de nós têm sua Caixa de Pandora, cheia de surpresas e demônios dos quais temos grande receio de libertar.

Quem? Quem tem a coragem de fazê-lo? Ou, ainda, quem tem a coragem de ao menos olhar dentro da caixa? Mesmo porque, para olhar, ela terá que ser aberta. Mesmo que você seja o único espectador, jamais sairá ileso.

É perturbador.

Viver o é.

Deixando as loucuras de lado... O que seria de nós se negássemos qualquer coisa pela qual tenhamos passado? Boas ou ruins. Ambas fazem parte daquilo que somos e seremos, eternamente.

É inegável.

A verdade o é.

Independente da religião, negar a verdade É um pecado. Mesmo que não aceitem o conceito (Sim. Conceito. A teologia é uma ciência independente das críticas dos ateus), podem arrumar outra palavra para dar um nome mais bonito para essa "falha" de nós, humanos. Em outros termos, negar essa verdade, aquilo que se é ou aquilo que se foi, é um crime que se comete contra si próprio.

Isso é inaceitável.

Fugir o é.

Negar sua própria essência é um erro. Pelo bem ou pelo mal, se não existe aceitação, não existe evolução. Dessa forma, nada muda.

Aquilo que não muda...

Não vive.

Não é.

Nunca será.



PS: Não era bem isso que eu pretendia escrever... As palavras começam a tomar forma e vão compondo o texto. Elas fazem isso sozinhas. Essa é a magia de escrever. É indescritível e inenarrável.