terça-feira, julho 29, 2008

Primeiras impressões sobre o Movimento Estudantil


Iniciei a vida acadêmica um pouco tardiamente e só agora pude ter contato mais direto com o Movimento Estudantil, o qual nunca me chamou atenção. Então, nunca pude ter uma opinião formada a respeito. Faço Serviço Social e minha própria formação envolve participação ou no mínimo conhecimento sobre os movimentos sociais. Nada mais natural que esse primeiro contato ocorra dentro do próprio meio estudantil.

Só para explicar a estrutura básica do movimento estudantil, ele se inicia nos CÃs (Centros Acadêmicos) dos cursos, passa pela Executiva Regional (ERESSO), depois pela Executiva Nacional (ENESSO) e chega ao órgão máximo que seria a UNE (União Nacional dos Estudantes). O Movimento de Estudantes do Serviço Social (MESS), não reconhece a UNE como representante dos estudantes, devido aos muitos escândalos, ao descaso e a posição que ela assumiu logo após o Lula ter chegado ao poder. Não tenho conhecimento sobre os demais cursos.

O encontro do qual participei foi o XXX ENESS (Encontro Nacional de Estudantes do Serviço Social), que aconteceu em Londrina-PR. Nesse encontro nacional, são eleitos os coordenadores que irão trabalhar no próximo período na Executiva Nacional promovendo o MESS. No final da plenária pude chegar a conclusão de que na verdade o que se busca promover são objetivos e interesses pessoais, já que a pessoa que entrar na Executiva Nacional poderá viajar todo o Brasil financiado pelo movimento estudantil. Quer situação melhor para os partidos que impregnam o MESS e os interessados em se tornar futuros políticos?

Vou destacar dois dos princípios fundamentais que estão presentes no Código de Ética do Assistente Social para ilustrar uma parcela daquilo que deveria ser o norte dos estudantes que se propõe a liderar o MESS:

• Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;

• Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida;


Com base nos discursos que se ouve e os princípios que regulamentam a profissão, todo o MESS deveria estar orientado para a luta contra o sistema vigente e a forma como ele se apresenta para a população. Sabe-se que a grande maioria dos brasileiros não possui uma consciência política e tampouco se interessam em adquirir um mínimo de conhecimento para chegar próximo de tê-la. Essa enorme parcela nada mais é do que massa de manobra, manipulada por discursos vazios e pra lá de clichês. Supõe-se que o profissional do Serviço Social lute contra esse tipo de prática, incutindo na cabeça das pessoas um mínimo de informação para que possam buscar melhorias sociais.

Os estudantes, futuros profissionais responsáveis pelo bem estar social, parecem preocupados apenas em reproduzir a lastimável situação que se perpetua na política brasileira. Uma chapa morna, com propostas pouco expressivas fez um discurso pouco empolgante. A outra, com nenhuma proposta concreta de fato, fez um discurso vazio e repleto jargões da política de esquerda, levantando bandeiras já erguidas, porém, seus integrantes possuíam ótima oratória e inflamaram a plenária. Por último, uma chapa meio anarquista, propôs abstenção geral para que se convocasse uma Assembléia Geral onde seria discutido um novo formato de eleição e da Executiva Nacional, pois acreditavam que a apatia do movimento se devia a entraves provocados pela sua atual configuração. A chapa se retirou do processo de eleição para reafirmar sua escolha pela abstenção, mas também não possuíam boa oratória e se mostraram um tanto nervosos, arrancando alguns poucos aplausos acompanhados desse que vos escreve.

Foi triste acompanhar todo o processo e perceber que o que estava sendo promovido era apenas uma cópia reduzida de nosso sistema eleitoreiro. Mais triste ainda foi ver que tantos estudantes de nível superior são alienados a ponto de se comoverem com um discurso tão vazio de conteúdo e são enganados tão facilmente por uma boa oratória. Mas também, era o mínimo que se podia esperar de estudantes que passam horas a fio discutindo coisas como a mudança em um artigo do regimento da Executiva que dizia algo como “a luta contra as políticas do capital” para “a luta contra as políticas do capital/neoliberal”.

Após a segunda convocação das faculdades para a votação, a chapa de boa oratória teria ganhado por 3 votos, mas descobriu-se que um dos últimos a votar sequer era estudante do Serviço Social. Após um bocado de discussão, os 3 votos do fraudador foram anulados e deixou a situação empatada. O que levou a uma nova e exaustiva discussão sobre o que deveria ser feito.

A chapa boa de oratória queria uma nova eleição, o que não poderia ocorrer, já que a maioria das delegações (as que vieram de mais longe) já havia iniciado sua extensa jornada estradas a fora. Coincidentemente, a maior parte dessas faculdades não votou na chapa que queria novo processo de eleição.

Por fim, decidiu-se que as eleições estavam mesmo anuladas e que se passaria o próximo período sem uma Executiva Nacional, tocando o movimento apenas através do trabalho das Executivas Regionais. O que acabou ficando mais ou menos como queria a chapa dos meio-anarquistas.

Como o encontro não se resume apenas as eleições, ocorreram também diversas mesas e discussões sobre alguns temas. Mas, da mesma maneira como se dá o Movimento Estudantil, falou-se apenas sobre temas que já foram debatidos a exaustão, sem apresentar ações reais e concretas para que se chegue de fato ao sucesso das buscas pelas melhorias sociais.

E não podia me esquecer do ponto máximo do encontro! O Ato Público! Realizou-se uma oficina de construção do ato público onde as cabeças pensantes do MESS, detentores de grande conhecimento, experiência e consciência política trabalharam. Inicialmente estava sendo planejado algo em torno de um protesto “Contra As Políticas Neoliberais”. Mas acho que a discussão sobre o artigo do regimento deve ter confundido um pouco a cabeça do povo, pois desistiram desse tema. A escolha então foi “Contra a Lei do Silêncio” e o ato teria inicio as 22:00 de quarta-feira e sairia pelas ruas de Londrina com uma banda de maracatu na frente. A única coisa que conseguimos foi acordar os cidadãos de bem que precisavam descansar para trabalhar no dia seguinte.

Posso dizer sem medo que nunca me senti tão idiota na vida.

Diante disso tudo me vem a mente a figura de um cachorro, muito bravo e de latido persistente, que fica horas a fio correndo atrás do próprio rabo.

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