terça-feira, janeiro 19, 2010

NOSCE TE IPSUM


Há alguns dias, respondi a umas postagens do blog do Greyiscown (esse aqui) que propunham que nós visitantes indicássemos três das melhores entidades (heróis, vilões, livros, filmes...) de acordo com nossa opinião. Eram onze categorias. Um pouco cansativo, mas bem interessante: lembrar de pelo menos trinta e três de suas melhores vivências. Isso me fez recordar de duas coisas. Primeiro, de um filme (High Fidelity, de 2000, traduzido sob o título de Alta fidelidade) onde o protagonista conversa conosco expondo as cinco experiências mais intensas em cada tema que ele julgava relevante no momento. O filme resultou para mim em uma viagem por minhas próprias recordações. Finalmente, lá pelas tantas, no meio das respostas que dava às postagens do Greyiscown, recordei-me de uma coisa comum ao que me aconteceu tanto ao assistir High Fidelity, quanto ao ir respondendo às categorias indicadas no blog. Trata-se da ação proposta pela frase misteriosa — afinal, falar qualquer coisa, como "vá comprar pão", em latim, acaba soando como um encantamento de magias ocultas — que dá título a estas palavras: conhecer-se a si mesmo.
Quando vejo à minha frente um grande número de melhores acontecimentos — e acredito que algo semelhante poderia vir dos piores — de minha vida, enumerados por mim mesmo e a respeito dos quais nem pensava em muito tempo, acabo espantando-me com um surto de novidades que descubro ao olhar para o lugar em que menos esperamos encontrar novidades: o passado. Há quem diga que só precisamos do tempo presente para nos autocompreendermos. E também há quem diga que esse negócio de "conhecer-se" não dá nenhum futuro. Prefiro considerar meu tempo como um todo, sem desprezar nenhuma de suas partes. Planejar o resgate de boas coisas velhas no futuro, tirar novidades do passado, viver mais uma vez um mesmo presente que valha a pena...
Isso me fez ver o quanto ainda negligencio um tanto importante de componentes fundamentais de minha vida, e o bom tanto de estrada que ainda falta percorrer para me encontrar. Não lembro agora qual poeta, nem as palavras exatas, mas ele dizia que encontrar-se é perder-se. E que perder-se é encontrar-se. E que então vale mais procurar-se, porque se você acha que se encontrou, então está perdido... e se você está perdido, precisa se encontrar.
Minha vida é uma sucessão infinita de aventuras e desastres. Eu ando, sem qualquer habilidade, na tênue corda bamba chamada "por-um-triz". Sempre acho que me falta sensatez, que as coisas podem ser diferentes, que eu poderia ter agido melhor, que o próximo ano pode ser mais organizado, e assim por diante. Todas as coisas que conquistei fazem parte de mim, mas a soma delas não me equivale, o valor delas, qualquer que seja, pode mudar, cair por terra... pois elas não dependem só de mim, estão fora da parte de mim em que posso me permitir a ilusão de controle. Sou controlado por mim mesmo, mas eu mesmo sou uma força que desconheço — ou que, na melhor das hipóteses, conheço apenas parcialmente.
Aos meus dezessete anos, eu nunca beberia cachaça, nunca encheria a cara de cerveja, jamais fumaria absolutamente nada, sempre amaria profundamente todas as mulheres que beijasse, faria a autoanálise de minhas ações em todas as noites, antes de dormir, e me tornaria um escritor. Nos dez anos que se seguiram, apenas algumas decisões permaneceram. Perdi boa parte de minha maturidade (eu era mais velho quando mais novo), ganhei cicatrizes — e parafusos de metal no osso, apesar de ter perdido uns parafusos da cabeça —, vivi um bocado de coisas que não pretendo repetir e outras que quero sempre fazer denovo, lamentei por um bisavô e por um grande amigo em potencial, e realizei a primeira autêntica 'road trip' entre amigos.
Continuo completamente perdido, mas, como dizia o poeta, o importante é procurar-se.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Veredas

Tudo começou num dia útil, talvez uma quinta, em que eu dormia enquanto o mundo trabalhava. Estava sonhando numa boa quando, derrepente, o sonho recebe aquelas estranhas interferências que um celular causa na tela de um monitor antigo. Era um telefonema da Gôrda, que fica bem feliz em me despertar — e me faz ficar mais feliz em ser acordado. Ela convidava-me para uma viagem de fim de ano, da melhor maneira de fazer viagens surgirem: sem planos determinados, sem métodos pré-estabelecidos, ou qualquer garantia... apenas uma grande vontade de viajar, que logo compartilhei e amplifiquei de minha maneira lenta e constante.
Os acontecimentos do percurso estão narrados muito bem por ela em seu blog, do qual gosto muito: http://velhasquasevirgens.blogspot.com/2010/01/o-conto-do-condado.html
Minha versão dos acontecimentos vai demorar um pouco para sair, porque eu sou lento. A viagem, porém, me fez concluir sentimentos, pensamentos e teorias que eu ruminava há varios meses — alguns com mais de um ano. Antes deles, apenas gostaria de aproveitar esta linha para expressar mais uma vez minha gratidão infinita pela existência da Gôrda. Como não sei bem quem é o responsável pela existência das pessoas, penso ser válido agradecer à própria existente: obrigado, Gôrda!
Nosso grupo de estrada teve muitas conversas que começaram assim que a "road trip" teve início; depois, elas estenderam-se aos amigos que nos receberam, e finalmente continuaram mais uma vez durante todo o percurso da volta. Saída e chegada foram apenas pontos secundários para mim. O que aconteceu entre esses pontos, o percurso de nossos caminhos, o fazer-se de uma parte memorável de nossas vidas... isso é o que tem para mim a primeira importância.
Das várias rotas possíveis, tanto na ida quanto na volta, escolhemos aquela única possível, que é a que devemos percorrer. Bem estranho isso. Num momento, parecemos escolher por nós mesmos, por nossa livre expontânea vontade, para em seguida percebermos que não poderia ser de outro modo, que aquele caminho, com seus desvios e acontecimentos, era nosso único caminho possível, nossa necessidade. É difícil medir o quanto podemos escolher um caminho e o quanto nosso caminho já nos escolheu antes. Tomo emprestadas palavras que tornaram-se minhas, dizendo que a liberdade é o estreito de um caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Da mesma fonte (Grande sertão — veredas, do Guimarães Rosa) tomo emprestadas adiante mais algumas das palavras que tornaram-se minhas, para tentar dizer um pouco daquilo que sempre repito novamente, sem sucesso em expressar-me com a devida clareza.
Viver é muito perigoso. Um olhar inadequado, uma palavra mal colocada, cinco minutos de atraso, detalhes menores até, podem desviar e arruinar uma vida inteira, duas vidas inteiras, quem sabe quantas vidas mais? Se eu tivesse deixado de falar o que precisava, se eu tivesse dito mais do que deveria, se eu tivesse ficado em casa... quantas vidas eu afetaria e com que direito? Há quem diga que andar de moto é perigoso, ou que sofrer um acidente é perigoso, mas essas pessoas não costumam atentar para o perigo de um olhar, de uma desconfiança, de um prejuízo que fazemos de alguém em função de mágoas passadas, ou de preconceitos herdados que relutamos em admitir. Esses erros todos e esses riscos todos eu vejo antes em mim. Eles me assustam mais do que a maior parte das coisas que deveriam me assustar de fato, se eu fosse mais sensato.
Passei longos anos tentando domar o medo de falar com os outros, expressar-me, dizer o que penso. Palavras tortas e ouvidos tortos distorcem tudo que quiserem. Domar o medo de ser, ao mesmo tempo, lento e desesperado, calmo e furioso, perdoador e rancoroso. Não tenho a conta de quantas oportunidades me passaram diante dos olhos enquanto tentei domar meu medo, mas tenho que acreditar que elas não eram minhas, se eu não estava pronto para elas. Houve um tempo em que eu sabia o que era estar pronto... e estar pronto era aquilo que eu nunca estava. A vida chega sempre de surpresa e é preciso coragem pra decidir o que fazer com ela. Nenhuma decisão parece fácil, se bem medida: dizemos um sim e negamos todo resto, nas decisões pesadas — aquelas depois das quais não há retorno. Ou bem dizemos um não, para esperar um inesperado melhor, mais merecedor de nosso cuidado, de um "sim".
Acabo de descobrir que passarei meses incontáveis tentando desvendar minhas próprias conclusões, que tudo que parecia estar claro depois das muitas conversas é só um começo de muitas coisas difíceis, das quais nem comecei a tratar aqui. Gostaria de saber me expressar melhor, mas isso, por hora, é o melhor que posso fazer.

Caixa de Pandora



Pandora Box by Arthur Rackham

Porquê temos esse desejo incontrolável de olhar para trás? Será que isso surge apenas quando nos damos conta do quanto envelhecemos?

De uma coisa eu tenho certeza: isso é muito piegas e escrever sobre isso é tanto quanto, ou mais. E não é a vida deveras piegas? Desafio a qualquer um a pensar...

Duvido que não exista algo em sua vida que você, talvez, não compartilhe com as pessoas por ter certeza de que soa como "brega", "retrogado", "conservador", "machista/feminista" ou seja lá o que for. Cada um de nós têm sua Caixa de Pandora, cheia de surpresas e demônios dos quais temos grande receio de libertar.

Quem? Quem tem a coragem de fazê-lo? Ou, ainda, quem tem a coragem de ao menos olhar dentro da caixa? Mesmo porque, para olhar, ela terá que ser aberta. Mesmo que você seja o único espectador, jamais sairá ileso.

É perturbador.

Viver o é.

Deixando as loucuras de lado... O que seria de nós se negássemos qualquer coisa pela qual tenhamos passado? Boas ou ruins. Ambas fazem parte daquilo que somos e seremos, eternamente.

É inegável.

A verdade o é.

Independente da religião, negar a verdade É um pecado. Mesmo que não aceitem o conceito (Sim. Conceito. A teologia é uma ciência independente das críticas dos ateus), podem arrumar outra palavra para dar um nome mais bonito para essa "falha" de nós, humanos. Em outros termos, negar essa verdade, aquilo que se é ou aquilo que se foi, é um crime que se comete contra si próprio.

Isso é inaceitável.

Fugir o é.

Negar sua própria essência é um erro. Pelo bem ou pelo mal, se não existe aceitação, não existe evolução. Dessa forma, nada muda.

Aquilo que não muda...

Não vive.

Não é.

Nunca será.



PS: Não era bem isso que eu pretendia escrever... As palavras começam a tomar forma e vão compondo o texto. Elas fazem isso sozinhas. Essa é a magia de escrever. É indescritível e inenarrável.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Desenvolução

Em muitos textos que leio, conversas que tenho, lugares aonde vou e também aqui, neste blog, um assunto bem recorrente é a boa e velha pendenga dos gêneros, que começa geralmente bem cedo, quando o grupo de meninos diz para uma menina que aquele jogo não é coisa de garotinha, ou quando o grupo de meninas diz para um menino que ele não pode participar da brincadeira. Mais cedo ou mais tarde, todos acabamos encontrando alguma versão dessas situações.
Uma coisa que sempre passa pela minha cabeça ao me deparar com esses dilemas é que eles sempre me parecem tão maduros e cheios de sensatez quanto eram na época de pique-esconde, amarelinha e bolinha-de-gude — com a diferença de agora acontecer entre pessoas velhas demais para que não seja vergonhoso o simples fato do dilema estar lá. Eu entendo que haja banheiros diferentes, e que os masculinos tenham mictórios. Mas fazer qualquer distinção que vá muito além desse ponto, querendo defender qualquer posição, é como enfiar o olho dentro de um vespeiro. Não vou enfiar meu olho num vespeiro. O melhor modo que conheço para lidar com vespeiros é atear fogo, de longe. Mesmo que eu consiga produzir o tipo de fogo adequado ao caso, é impossível tomar uma distância segura — o que exigiria, por exemplo, que eu fosse um extraterrestre com meu próprio disco voador.
O que pretendo fazer é compartilhar algumas inquietações que tive recentemente ao entrar mais algumas vezes em contato com textos e conversas de gente corajosa, que não teme umas picadinhas de vespa no olho. Eu imaginei a grande movimentação do tempo e da história do mundo, com todas as suas civilizações e culturas diferentes. Todas elas têm homens e mulheres. Em todas elas eles têm filhos e filhas. Por mais que tentem puxar a corda, revirar as coisas, mudar os lados, reorganizar tudo, a consequência é sempre a chegada de uma nova geração e a saída de uma antiga. Isso me fez cansar de ficar discutindo os detalhes, atentando para ninharias. Acabei tendo uma tremenda vontade de apenas fazer parte do meu tempo, me entender com uma mulher da minha geração e dar continuidade à passagem infinita das estações pela eternidade. Gostaria de fazer isso da melhor forma, por isso acabei esbarrando com o fato de que meu tempo não é eterno, de modo que precisarei me preocupar com detalhes e ninharias, de modo que acabarei enfiando novamente meu olho em vespeiros várias vezes...
Uma coisa que sempre poderei fazer é tentar convencer os demais a deixar detalhes e ninharias um pouco de lado. Talvez um dia esses detalhes e ninharias passem a ter pouca importância, fazendo com que homens e mulheres entendam melhor suas semelhanças e diferenças.
Se fudeu! Vou publicar e NÃO VAI MAIS REVISAR BOSTA NENHUMA!!! (Gorda)

sábado, agosto 29, 2009

Twittando...

@williamlannart

...

A vida agora se resume em 140 caracteres.



Voa senso crítico!! Voa...



Minimize-se. Simplifique suas ideias. Encurte a vida.

quarta-feira, julho 29, 2009

Absolutismo


O Brasil passou a viver em regime absolutista a partir da Constituição de 1988. Nosso soberano absoluto?

José Sarney
!


segunda-feira, julho 06, 2009

Frases Pontuais


Onde existe desigualdade, é uma afronta a ética falar de liberdade.


PS: Como ando sem tempo e sem um computador com acesso a internet pra poder postar com certa regularidade, vou tentar postar algumas frases polêmicas (de minha autoria ou não) para poder gerar reações!