
Ao invés de pétalas ou folhas, temos papéis de bala.
Ao invés de aves marinhas, temos urubus.
Ao invés de siris ou caranguejos na areia das praias, temos ratos.
Em lugar do amor e do equilíbrio, temos ganância e destruição.
E a terra, treme.
O que quer que queira, seja, sinta, veja, ouça, deguste, leia... O que quer que, enfim, VIVA!
O fato é que meu nome sempre esteve entre os colaboradores do blog mesmo nunca tendo colaborado com uma linha sequer na construção de seu conteúdo. Não me defenderei com explicações e justificativas que legitimem minha postura. Muito pelo contrário, tentarei, a partir de agora, colaborar com o blog. Nunca tive uma “vida” virtual muito ativa, portanto, nunca soube o que escrever em um blog, ou qualquer meio virtual de acesso público. Então, aproveitarei o fato de que fui, sou, e serei sempre um “rato” de biblioteca e postarei alguns devaneios obtidos em minhas jornadas repletas de ratoeiras e ácaros de livros antigos que me provocam os incontroláveis ataques de espirros que vocês bem conhecem. Vamos ver quem consegue terminar as chatas e delongadas linhas de meu escrito.
O tema deste post se baseará no Homem. Mas não no Homem como ele é, mas o Homem como deveria ser segundo duas linhas de pensamento. Para tal, vamos viajar um pouco nas idéias de dois autores completamente distintos. O primeiro, Friedrich Nietzsche (1844-1900), hoje, praticamente um ícone pop, citado à exaustão por aqueles que pensam compreender sua obra (eu, particularmente, compreendo pequenas fagulhas e acho que cada parágrafo é conteúdo para horas de debate). O segundo, ou melhor, a segunda, é a filósofa russa naturalizada americana, Ayn Rand, cuja popularidade é pequena, senão, nula
Lembro-me, de ainda adolescente, me deparar com uma versão tosca e barata de “Assim Falou Zaratustra” de Friedrich Nietzsche. Quem, ainda jovem, ao ler tal obra não teve a imaginação incendiada com suas idéias revolucionárias? Ao me deparar com os conceitos de vontade de potência, eterno retorno e transmutação dos valores, tive a sensação de estar diante de uma nova visão de mundo, para não dizer a vontade e desejo de personificar tais conceitos. Mas, dentro de todos os conceitos apresentados por Nietzsche em Zaratustra, o que mais me chamou atenção, e acredito que o que mais chama atenção de qualquer um que tenha lido a obra, é a apresentação de seu Ünbermensch, que no português foi traduzido como “super-homem” — não há tradução universalmente aceita da palavra Übermensch, alguns teóricos preferem o termo “sobre-homem”, outros empregam “sobre-pessoa” assim como “sobre-humano”, utilizarei o termo em alemão Übermenschm, já que Nietzsche usa a palavra como termo técnico. Deparei-me com a filosofia de Nietzsche novamente, desta vez com a maturidade mais acentuada, no intuito de fundamentar um trabalho acadêmico de publicidade (sim, eu utilizo a filosofia como alicerce na criação publicitária) e algum tempo depois, ao saber que sou um fã e estudioso de Watchmen (HQ concebida por Alan Moore e Dave Gibbons) fui presenteado por minha apessoada com um livro que trata de Watchmen e a Filosofia, e um capítulo trata exatamente do Ünbermensch em Watchmen (chegarei neste ponto mais adiante).
Em “Assim falou Zaratustra”, um tipo de profeta e uma das vozes de Nietzsche (o livro possuí uma linguagem que se aproxima da literatura, carregado de um apelo poético, Nietzsche se utiliza de várias vozes para expressar suas idéias, mas isso é um debate para outra ocasião, pois envolve não só o processo pelo qual o autor concebeu suas idéias, mas também limitações de caráter físico) descreve o Ünbermensch em termos heróicos:
Eu vos anuncio o Super-homem.
O homem é superável. Que fizeste para supera-lo?
O super-homem é o sentido da Terra.
Vede: eu sou um anúncio do relâmpago e uma pesada
Gota procedente da nuvem: mas esse relâmpago é chamado Super-homem.
No entanto, uma incógnita percorre a obra. Afinal, em momento algum Zaratustra define diretamente o que a palavra Ünbermensch significa, tampouco descreve como deveria se parecer um Ünbermensch. Alguns especulam que Nietzsche se refere aos grandes homens da História, como Napoleão. Outros vêem o Ünbermensch como qualquer um que tenha superado o que Nietzsche chama de “moral de escravo”, de culpa e ressentimento, o que de fato mais se aproxima com a idéia do autor (Bogodes, com certeza sabe muito mais sobre o assunto do que eu). Para ficar mais clara a idéia de superação da moral de escravo, culpa e ressentimento:
A conquista da super-humanidade, ou da liberação do homem exigiria segundo o pensador um combate feroz contra a antiga moralidade escravocrata que aprisiona o ser humano. O primeiro inimigo seria a moral socrática que reduz tudo sob os pés da razão. Depois disso se deveria exterminar a moral cristã, a moral do escravo, que vale de supostas recompensas em um mundo inexistente, valoriza a debilidade e por meio da exaltação de tudo o que é fraco e doente nega a vida à vontade de potencia. O Cristianismo herança e aprimoramento da deturpada moral judaica condena os instintos naturais do homem como sendo erro e tentação. E sendo os instintos a manifestação da vida, essa negação da moral cristã seria um apoio à destruição da própria vida, ao ódio pelo próprio corpo e, portanto ao ódio de si mesmo e conseqüentemente ao ódio ao restante do mundo e finalmente ao próximo. Tudo é claro sem abandonar as vestimentas de suposta santidade.
Mas vamos guardar essa idéia da superação da “moral do escravo” e de culpa e ressentimento para mais adiante.
Enfim, vamos logo ao que cerne grande parte da filosofia de Nietzsche, ou seja, sua famosa afirmação “Deus está morto.” para tentar compreender a concepção de seu Ünbermensch. Não sejamos ingênuos ao buscar compreender tal afirmação, Nietzsche não quis dizer que houve um Deus que esteve vivo e que agora está morto. Na realidade, o que tinha morrido era o poder da crença em Deus, assim como a sustentação de uma ordem moral. Conforme a ciência explica mais e mais do mundo natural, resta cada vez menos espaço para Deus, ao menos ao Deus pessoal, compassivo, que se interessa pelas questões da humanidade (sejamos honestos, essa idéia não é tão atraente quanto outrora). A morte de Deus deixa um vácuo no reino da moralidade e dos valores: não temos mais uma fonte de moral objetiva ou de ordem e de propósito no mundo. Esse vácuo, uma visão de que a vida é essencialmente sem sentido é chamado de niilismo. Ok, pode parecer complicado de entender, e sim, isso tudo pode nos arrepiar os cabelos da nuca. Vejamos um exemplo dessa visão de mundo através de Rorschach, personagem de Watchmen (cap. VI p. 26):
Olhei para o céu através da fumaça cheia de gordura humana e Deus não estava lá. A escuridão fria e sufocante prossegue eternamente, e nós estamos sós. Vivemos nossas vidas, por não termos nada melhor para fazer. Inventamos uma razão depois. Nascemos do esquecimento, criamos crianças tão condenadas ao inferno como nós. Voltamos ao esquecimento. Não há mais nada. A existência é aleatória. Não tem nenhum padrão, salvo aquele que imaginamos depois de encará-la por muito tempo. Nenhum significado, salvo o que escolhemos impor. Este mundo sem leme não é moldado por vagas forças metafísicas. Não é Deus quem mata as crianças. Não é a sina que as esquarteja ou o destino que as dá de comer aos cães. Somos nós. Apenas nós.
Assim, o Ünbermensch é aquele que, além de superar a “moral do escravo” e da culpa e ressentimento, é capaz de olhar sem medo para o abismo da ausência de sentido, e não só confronta o vazio moral de frente, com o chega a afirmá-lo. Tal confronto se justifica ao final do processo com a criação de novos valores (Nietzsche utiliza a parábola das “Três Metamorfoses”. O camelo representa a aceitação dos valores
Toscamente essa é a visão da superação do homem de Nietzsche: o Ünbermensch.
Partimos agora para o homem ideal concebido por Ayn Rand. Primeiramente, Ayn Rand é uma das pessoas mais influentes do Século 21. Mesmo tendo morrido em 1982. Rand criou um sistema filosófico que batizou de Objetivismo. É pró-feminismo, antiracista, antiautoritário e anti-religião. Também é baseado no individualismo extremo (ela escreveu um livro chamado “A Virtude do Egoísmo”) e no capitalismo laissez-faire, com supervisão mínima ou nenhuma do estado. Talvez o último aspecto citado tenha sido o maior alvo das críticas destinadas à autora. No entanto, Rand não era uma defensora entusiasta do capitalismo, e sim do individualismo e egoísmo. Mas não sejam “bobos” ao interpretarem egoísmo ou individualismo de forma errada. Primeiramente, ambas as palavras foram usurpadas e deturpadas pelas instituições sociais no decorrer dos séculos, agregando em ambas um forte tom pejorativo, a verdade é que ambas as palavras não possuem juízo de valor em sua origem etimológica. As obras da autora baseiam-se na projeção de um homem ideal. Para Rand, o herói é aquele cujo fim está em si mesmo (é isso mesmo Bogodes, como você com certeza percebeu, essa premissa é um dos imperativos de Kant, imperativo prático, para ser mais exato.). As principais obras filosóficas de Rand foram escritas em forma de romance: “A Nascente” (The Fountainhead) e “Quem Matou John Galt” (Atlas Shrugged). A meu ver, o grande diferencial da autora é contextualizar sua filosofia em histórias que valem a pena serem lidas, não só pela maestria de sua técnica enquanto romancista, como pela vivacidade que emprega em suas personagens. Ou seja, mesmo que você possa não concordar com grande parte de sua filosofia, ler Ayn Rand é, sobretudo, uma ótima experiência literária.
Vamos tentar entender o homem ideal segundo Ayn Rand. Sua filosofia é construída através de antíteses, tais como: individualismo x coletivismo, egoísmo x altruísmo. Através destes conflitos, Rand, ao contrário de Nietzsche, concebe claramente o que o homem deveria ser. Nesse aspecto, o coletivismo para a autora é força que mina a grandeza, liberdade e superação do Homem, é a rédea que mantém o Homem desprovido de sua razão. Ok, posso estar parecendo meio vago, senão totalmente. Portanto acho que se faz necessária uma citação direta da obra da autora. O trecho escolhido foi extraído da obra “A Nascente”, e é um discurso de um “vilão” que prega o coletivismo, e que usa do mesmo para a obtenção do poder. A obra é de 1943, no entanto, como toda grande obra, possui certo caráter atemporal. Vejamos como a autora vislumbra a questão da dominação e como o Homem ideal está além de tais aspirações, e assim como a questão do niilismo em Nietzsche, é arrepiante:
“- O prazer não é o meu destino. Eu encontrarei a satisfação que a minha capacidade permite. Eu dominarei.
- A quê...?
- Você. O mundo. É só uma questão de descobrir a alavanca. Se aprender a dominar a alma de um único homem, você consegue pegar o resto da humanidade. É a alma, Peter, a alma. Não chicotes, nem espadas, nem fogo, nem armas. Foi por isso que os Césares, os Átilas, os Napoleões foram tolos e não duraram. Nós duraremos. A alma, Peter, é aquilo que não pode ser dominado. Tem que ser destruída. Enfie um calço nela, agarre-a com seus dedos, e o homem lhe pertence. Você não precisará de um chicote — ele o trará até você e lhe pedirá que o açoite. Reverta a meta dele — e o próprio mecanismo dele fará o seu trabalho para você. Use-o contra si mesmo. Quer saber como se faz? Veja se alguma vez eu menti para você. Veja se não ouviu tudo isso durante anos, mas você não queria ouvir, e a culpa é sua, não minha. Há muitas maneiras. Aqui vai uma: Faça o homem se sentir insignificante. Faça-o se sentir culpado. Mate suas aspirações e sua integridade. Isso é difícil. Mesmo o pior entre vocês procura, tateando no escuro, um ideal, do seu próprio jeito distorcido. Mate a integridade através da corrupção interna. Use-a contra si mesma. Direcione-a para um objetivo que destrua toda a sua integridade. Pregue a abnegação. Diga ao homem que ele deve viver para os outros. Diga aos homens que o altruísmo é o ideal. Nem um único deles jamais o alcançou e nem um único jamais alcançará. Cada um de seus instintos vivos grita contra ele. Mas você não vê o que realiza? O homem percebe que é incapaz de atingir o que aceitou ser a virtude mais nobre, e isso lhe dá um senso de culpa, de pecado, de sua fundamental falta de valor. Uma vez que o ideal supremo está além do seu alcance, ele acaba abrindo mão de todos os ideais, de todas as aspirações, de todo senso de seu valor pessoal. Ele se sente forçado a pregar o que não pode fazer. Mas uma pessoa não pode ser boa pela metade ou aproximadamente honesta. Preservar a própria integridade é uma batalha dura. Por que preservar aquilo que a pessoa já sabe que está corrompido? Sua alma abre mão do respeito próprio. Você o tem. Ele obedecerá. Ficará contente em obedecer, porque não pode confiar em si mesmo, sente-se inseguro, sente-se impuro. Essa é uma maneira. Aqui vai outra. Mate o senso de valores do homem. Mate a sua capacidade de reconhecer a grandeza ou de atingi-la. Grandes homens não podem ser dominados. Não queremos nenhum grande homem. Não negue o conceito de grandeza. Destrua-o por dentro. O grande é o raro, o difícil, o excepcional. Estabeleça padrões de realização abertos a todos, aos piores, aos mais inaptos, e você paralisa o ímpeto de esforço em todos os homens, grandes ou pequenos. Você paralisa todo o incentivo ao progresso, à excelência, à perfeição. Ria de Roark e defenda Peter Keating como um grande arquiteto. Você destruiu a arquitetura. Avance a carreira de Lois Cook, e você destruiu a literatura. Aclame Ike e você destruiu o teatro. Glorifique Lancelot Clokey, e você destruiu a imprensa. Não saia por aí tentando arrasar todos os santuários — você assustará os homens. Venere a mediocridade, e os santuários estarão arrasados. E há outra maneira. Mate através do riso. O riso é um instrumento de alegria humana. Aprenda a usá-lo como uma arma destruidora. Transforme-o em um riso de menosprezo. È simples. Diga-lhes para rirem de tudo. Diga-lhes que um senso de humor é uma virtude ilimitada. Não deixe que nada permaneça sagrado na alma do homem, e a sua própria alma não será sagrada para ele. Mate a veneração e você terá matado o herói no homem. Não se venera com risadinhas. Ele obedecerá e não imporá nenhum limite à sua obediência — vale tudo — nada é sério demais. Aqui vai outra maneira. Isto é extremamente importante. Não permita que os homens sejam felizes. A felicidade é independente e auto-suficiente. Homens felizes não têm tempo nem utilidade para você. Homens felizes são homens livres. Portanto, mate a alegria deles de viver. Tire deles o que quer que seja precioso para eles. Nunca deixe que tenham o que querem. Faça com que sintam que o mero fato de um desejo pessoal é maligno. Leve-os a um estado em que dizer “Eu quero” não é mais um direito natural, mas uma confissão vergonhosa. O altruísmo é de grande ajuda nesse caso. Os homens infelizes virão até você. Precisarão de você. Virão buscando consolo, apoio, fuga. A natureza não permite nenhum vácuo. Esvazie a alma do homem, e o espaço será seu para preencher. Não sei por que você deveria parecer tão chocado, Peter. Está é a mais velha de todas. Olhe para a História. Examine qualquer grande sistema de ética, do Oriente
Fica absolutamente claro nesta citação que o homem ideal para Rand é aquele que não se permite levar por todas as armadilhas construídas por homens que se alimentam de homens. Neste aspecto, o homem ideal é aquele que não abandona sua razão. Ah, já conseguimos observar pontos divergentes da visão do homem ideal de Rand e Nietzsche. A primeira defende a razão, completamente. O segundo, não só a nega como a coloca como um obstáculo que deve ser ultrapassado. A primeira uma racionalista em absoluto, o que deixa clara a grande influência de Emmanuel Kant. O segundo, um irracional, cuja metafísica consiste de um universo quase que “byroniano” e misticamente malévolo, onde sua epistemologia subordina a razão à “vontade” ou ao sentimento, ou as virtudes de caráter inatas. No caso de Nietzsche percebem-se as influências de Schopenhauer e Dostoievski. Mas podemos colocar alguns pontos
OK. Não seria justo colocar o ideal de homem, segundo Ayn Rand, através do discurso de seu antagonista. E como eu disse que Rand, ao contrário de Nietzsche, deixa claro sua concepção de Homem, vamos colocar as atribuições do tal sujeito, ou melhor, “O Cara” (risos). E olha que legal, a obra “A Nascente” virou filme nos 1950 e foi co-dirigido pela própria Ayn Rand, que além de filósofa era dramaturga (escreveu várias peças de teatro) e roteirista de cinema. Portanto segue um trecho do filme. Não estou contextualizando essas citações, o que seria importante por tratar-se de um romance, mas acho que mesmo não contextualizando fica claro o discurso da autora. A obra possui quase mil páginas, portanto ficaria complicado contextualizar em poucas linhas.
Ufa...para os que conseguiram acompanhar até aqui (será que teve alguém? Hahahaha), ficou evidente como se dá a construção do Übermensch de Nietzsche e do Homem ideal segundo Rand, assim como suas divergências e peculiaridades
Afinal, o que eu quis dizer com tudo isso? Vamos chegar neste ponto exatamente agora, tenham paciência (risos).
Lembro-me das descontraídas discussões com o nosso amigo Bigodelhos quanto a validade da filosofia na vida das pessoas. As discussões sempre terminavam em tom de zombaria afirmando a inutilidade da filosofia, o que levava nosso amigo “loser” a concordar por não mais agüentar tamanha zombaria com sua paixão (e sim, eu era um zuador afinco de nosso nobre amigo, mas não se preocupem, eu continuarei sendo). Mas, alguns anos depois, assim como algumas dezenas de livros lidos depois, venho, não só me manifestar a favor da filosofia, como a cultuá-la como o combustível primordial na criação de grandes obras da cultura contemporânea. Claro que podemos fazer uma análise filosófica de qualquer obra (independente do meio, cinema, literatura, HQ, artes plásticas, música, etc.) e transportá-la para linha que pretendemos estudar. Tal passividade está além do propósito do autor. Mas o que quero dizer, é que a filosofia é utilizada conscientemente pelo autor na concepção de sua obra, ou seja, não há coincidências, está ali pelo simples fato do autor lhe dar propósito. Este extenso texto sobre o Homem, o primeiro quase um desafio de seu autor, o segundo, o homem tal qual deveria ser, teve o intuito de demonstrar a essência da filosofia de seus autores, para só assim relacionar a influência de suas filosofias na arte contemporânea.
Por exemplo, os conceitos da filosofia de Nietzsche podem ser encontrados em duas das maiores obras do meio artístico-cultural do século XX em suas respectivas linguagens. Primeiro “2001: Odisséia no Espaço”, filme de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, considerado o melhor filme de ficção científica de todos os tempos. A filosofia de Nietzsche não só está presente, como faz parte da subtrama do filme, até a parábola das “Três metamorfoses” está presente no filme. A segunda, como já citei anteriormente, é “Watchmen”, grafic novel de Alan Moore e Dave Gibbons. A grafic novel personifica não só vários aspectos da filosofia de Nietsche, como o niilismo nietzchiano e o próprio Ünbermensch, como também dialoga com as filosofias de Kant, Hume, Hegel, Weber, Eco, Bérgson, etc. E vai por mim, o barbudinho, assim como Kubrick e Clarke, sabiam muito bem o que estavam fazendo, portanto, antes que você cogite a possibilidade eu já afirmo, não, não foi coincidência. E olha que coisa legal que descobri conversando com um amigo mestrando em estudos literários, a filosofia de Nietzsche pode ser vastamente encontrada nas obras de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores ícones da literatura brasileira.
“Ah, mas Nietzsche é bastante popular, e não me espanta ter sido usado como referência fora do âmbito acadêmico” você deve estar pensando. Ayn Rand não fica muito atrás. Por exemplo, as HQs Sin City e 300 de Frank Miller são praticamente tributos a obra de Rand, assim como “
entusiasta da obra de Rand, sendo seu trabalho com o personagem Questão uma síntese da filosofia randiana. (para saber mais ler artigo “Os Objetivos do Senhor Ditko: http://guedes-manifesto.blogspot.com/2008/12/os-objetivos-do-senhor-ditko.html ) Pra terminar, a filosofia de Ayn Rand influenciou Mark Cuban e Jimmy Wales a criarem o site Wikipedia.
Por fim, tanto a filosofia de Nietzsche quanto de Rand foram utilizadas na concepção de obras e personagens que encontram-se incrustados em nosso imaginário. Nesta óptica, a filosofia foi matéria-prima essencial na concepção de obras artísticas cultuadas da cultura contemporânea. “Inútil filosofia”? Pobres daqueles que ainda lhe vêem associada com adjetivo tão disparato.
Então é isso. Sempre reclamei de posts demasiados longos, mas como nunca contribui com o site, esta foi minha colaboração para compensar os anos de ausência (risos). Se você conseguiu ler até o final, espero que tenha gostado e que tenha tirado algum proveito, nem que seja apenas no ato reflexivo. Talvez futuramente eu venha postar algumas coisas que venho estudando, como: “Baudrillard: A Hiper-Realidade e o Simulacro Hollywoodiano” ou “Identidade: A Ontologia do Consumo”. É isso meus amigos (as), um abraço e nos esbarramos nos botecos da vida.